Quem se lembra do moto de campanha do PT em 2002 talvez não imaginasse - além de outras conotações mais cínicas - que ele poderia, digamos, irradiar-se continente afora, com a sucessiva entrada de governos de origem socialista, mostrando a incompetência dos governos conservadores destes países, que não conseguiram diminuir a necessidade de se almejar uma esquerda no poder: ou seja, seus desgovernos, no geral, parecem não ter conseguido diminuir os números da pobreza e miséria em seus territórios. Certamente não no Brasil, mesmo com o surto desenvolvimentista nos anos 70. O bolo cresceu, e foi devorado por muito poucos (a julgar o tamanho do Ministro do Planejamento de então, dizem alguns, por um só).
Da Venezuela agora ao Paraguai, agora é vez deles também. E ai, é claro, a porca torce o rabo. Salvadores da Pátria e Messias políticos sempre têm agendas cheias. Não raro, a indignação de séculos é captada, trabalhada e sintetizada em discursos de palanque, e na hora da eleição, como qualquer promessa de campanha, quem elegeu espera que se cumpra.
E ai, claro, a porca dá o nó no rabo. Discursos de palanque de esquerda convicta são revolucionários, de uma maneira ou de outra. Algum show tem que acontecer. A Petrobrás que o diga.
A primeira vez que ouvi falar do acordo binacional de Itaipu foi na universidade, durante uma palestra do cineasta Silvio Beck, em uma sala apertada, que havia então feito seu documentário sobre a Guerra do Paraguai. Ele contou que muito ali era uma espécie de desculpas históricas do Brasil pelo massacre, inclusive a parte de obrigatoriamente comprar o excedente energético não utilizado pelo Paraguai - sendo um país até hoje agrário, imaginem. Por mim, por mais que eu seja avesso a revisionismos históricos, deste eu não reclamo. A coisa foi muito feia. Bad, bad Brazil. "Que os matem ainda no ventre de suas mães" e quetais.
Celso Amorim, nosso Ministro das Relações Exteriores, fala em diálogo com o novo governo do ex-bispo Fernando Lugo - que fortuitamente vem quebrar 62 anos de Partido Colorado no poder -, sobre a questão dos valores pagos do Tratado de Itaipu. Com ou sem razão em ceder no que ou no que não, Celso Amorim talvez tenha uma percepção melhor do que tudo ocorre do que o Presidente, chegando mesmo a contradizê-lo, ao falar em diálogo.
Lula diz que Lugo deve descer do palanque para ai começar a conversar. Antes de qualquer sensibilidade histórica, deve estar sensível com o caso recente da Petrobrás e o discurso posto em prática de Evo Morales. Por outra, deve estar reconhecendo outro igual, dado o tom de bravata da coisa. Mas ei, agora é a nossa vez, no Paraguai...
quinta-feira, 24 de abril de 2008
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