terça-feira, 18 de junho de 2013

Meninos, eu vi, e posso contar...

Pois é, então estive lá.

Comecei encontrando, conforme combinado, com meus ilustrissimos Daniel Da Costa Bezerra e Ana Carina, e ainda Paulo Henrique, na Pça XV, em concentração um grupo ligado às artes cênicas cá no Rio. Tudo ótimo, fim de tarde e tal.

Na saída, descendo a 1o. de Março, uma bandinha do núcleo dos manifestantes tocava sambas e canções de amor. Vi um guarda em uma motocicleta fazer uma saudação. Ganhou flores e deu abraços em retribuição. Gentileza gera gentileza, pelo visto. Só ia ver novamente polícia logo no início da RB, uma fileira que olhava, atenta, mas nada, nem um ato ou gesto agressivo ou intimidante: apenas exerciam sua função. Mas me adianto.

Descemos e demos a volta pela Candelária. A tarde caía rápido. Não sei onde está o raio do cabinho do celular, fico devendo fotos e filmes. Mas estava muito legal.

O problema, o problema ao meu ver, logo se prenunciava, embora ainda não soubéssemos disso. Um carro de som com bandeiras de partidos, sindicatos e aloprações em geral gritava alguma coisa. Não lhes demos muita trela. Embicando na Rio Branco, subitamente, qual um autêntico 'bonde do terror', desce a galera dos partidos: bandeiras vermelhas. PSTU, pelo menos. Mais algumas coisas. Entrou dividindo, entrou pra empurrar. Não foi chegando, nem veio para se enturmar. Entraram, e ficaram em um trecho sempre à frente e na metada direita da RB, do ponto de quem desce o sentido do trânsito.

Mas até aí, tudo bem, que diabos, se a rua é pública, a manifestação ainda é mais. Gente por todos os lados, recebendo dos céus papel picado e luzes piscando dos escritórios, sempre que os chamávamos, "vem pra rua!" "vem pra rua!" Aplausos e sorrisos. A inevitáveis palavras de ordem, "Fora (insira o nome de governante)". Normal. Daniel, sempre acompanhando o rádio, ouve que a tropa de choque estava no quartel. Depois do horror de domingo, parece que alguém tinha resolvido deixado cair a ficha finalmente.

Uma longa caminhada, que junta coisa de cem mil manifestantes, que por fim desagua na Cinelândia. A satisfação de participar de algo tão maior e tão significativo. Fomos nós três tomar algo em um dos bares ali pelo Odeon, onde vimos, assombrados, o que acontecia em São Paulo, e o que acontecia em Brasília, com aquelas sombras mágicas correndo pelo Congresso. Júbilo, êxtase, alegria. Uma coroação por algo tão bonito.

E aí vieram as imagens do Rio de Janeiro. Não o que participáramos somente - mais assombro por sermos tantos! - mas as imagens da ALERJ.

Eles. É claro. Os embandeirados. Os de siglas infinitas, tanto quanto infinitamente insgnificantes. Que tentavam dar uma de líderes do movimento ao longo do caminho, e que só tomavam vaia, uma atrás da outra. Aos poucos, nossas palavras de ordem os incluíam, "Sem partido!", "Sem partido!" e "Não me representa!" "Não me representa!", "Oportunista! Oportunista!" e a favorita "PSTU, vai tomar no c*!". Um dado momento da marcha, rolou um corre-corre, aliás, vindo do lado das bandeiras. Acho que alguém perdeu a esportiva. Não sabe brincar, não desce pro play. Mas não deu em nada, que bom.

Mas aí, eles. Que no final, na Cinelândia, agrupavam-se, acotovelavam-se, acomiciavam-se, punham camisas ao redor do rosto e se preparavam para alguma coisa. Nós nos afastamos, eu realmente precisava me sentar um pouco, para renovar as forças. Um manifestante aconselhou uma amiga que acabara de encontrar, casualmente, a prender o cabelo por causa do gás lacrimogênio. Disse, ingênuo, que o Choque estava no quartel. Responderam-me, ambos, que a polícia estava ja ali, numa rua lateral - exatamente na direção da ALERJ. As imagens, dez minutos depois, mostraram que o perigo não era a polícia, e nem os manifestantes. Mas eles.

Eles, que não entendem que não há lideranças nesse movimento. Eles, que sozinhos não juntam cem mil nem fudendo. Eles, que não entendem que seu tempo já passou. Que seus métodos já passaram. Que seus textos sagrados de sua religião já passaram. Querem que eu desenhe um dinossauro com um meteoro caindo em cima? Pois é. Visualizem. Extinguam-se com dignidade, seus vermes. Deixe as mudanças virem. OU de próxima, venham à manifestação. Mas sem bandeiras. Apenas como brasileiros. Eu os desafio. Se forem homens para isso, é claro.

Claro que a resposta do Estado veio na forma da tropa de choque, que fez o que a tropa de choque sabe fazer. Notem: na imprensa deu que a tropa de choque estava no quartel. A hora da vandalização era essa.

Mas no meio do lodo, eu - que já havia me ido metrô afora - colho pequenas flores na forma de depoimentos. Um conta como esteve no quebra quebra da ALERJ, mas para por senso em quem fosse. Para proteger policiais. Ou como hoje várias pessoas lá foram, para ajudar a limpar a depredação dos falsos manifestantes. Digo falsos, porquê babaquice não me representa. Ou a tal vaquinha para o rapaz que teve o carro queimado.

É isso. Uma grande experiência, um grande fim de tarde e noite, na companhia de três bons amigos, quase cem mil deles. Recomendo. Viver a mudança, e ver a mudança.