quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

E ai a França vem...

... e suspende o visto de um muçulmano, porque ele impunha a burka à esposa, sob o pretexto disto ferir dois dos princípios da República: igualdade entre os sexos e o laicismo.

Comentando isto agora a um amigo meu, I've mixed feelings about that.

A mensagem é clara: não estamos a fim de aturar medievalismos religiosos. Acreditem, nós sabemos o que é, em primeira mão. Não vamos fazer vista grossa. Não tem veja-bem.

É a mesma França que proibiu, em escolas públicas, a presença não somente de crucifixos nas salas de aula, como em alunos, quipás em judeus, véus islâmicos em moças muçulmanas.

Não sou versado em Direito, muito menos francês... mas acho que a França parece ampliar a noção de proselitismo religioso para qualquer símbolo carregado à plena vista. Mas isto não é proselitismo, isso é apenas a escolha pessoal de um indivíduo. Claro, a esposa do cavalheiro acima em questão, eu não sei o quanto de escolha ela teve, ou ela acredita que teve. Mas, de qualquer forma, isto é fazer o Estado se meter na vida do indivíduo. De exceção em exceção, bem...

Ao mesmo tempo, imagino que deva ser desagradável ver, em seu dito moderno país ocidental, uma mulher desfilando como se tivesse saído de um filme como Guerra nas Estrelas ou O Quinto Elemento, e por um momento acreditar: será que isto será o padrão, daqui a pouco? Uma mulher ocidental vendo aquilo, será que não estará vislumbrando o que lhe reserva "algum dia"?

E ai outra questão: é, de fato, pelos princípios da República, ou nesta bala tem um nome gravado? Há comportamentos em outras religiões não muito lisonjeiros: se não geralmente em termos específicos, a mulher de um rabino não deve falar com outros homens, ou falar o mínimo possível. E ai, como fica? Ou demonstrações homofóbicas vindas de vertentes cristãs, isto significa que esta ou aquela igreja será fechada?

O que me faz pensar, como disse meu camarada: até que ponto alguém vindo de fora não deveria se acomodar aos costumes do país que o recebe? Mas ai eu pergunto, até que ponto o país que recebe alguém tem o direito de dizer a este como deve ou não se comportar?

Claro que há leis, quando se chega ao tal país, e nem se discute se deve-se ou não obedecê-las. Ir a outro país não significa subsidiar seus cacoetes pessoais com as benesses da nova terra; e antes que alguém diga "tradição", por favor: nessas horas tradição é apenas um outro nome para um erro que se perpetua por séculos, quando não, milênios.

A resposta mais rápida para tudo isto, ao que parece crer a França e alguns aspectos de nossa legislação, é que a saída é ser intolerante com os intolerantes. E ao combater os monstros, cuidado para não se tornar um deles, imagino. Mas por ser a resposta mais rápida, como é em casos complexos como este, imagino o que se perca no caminho.

A resposta mais complexa, a mais trabalhosa e, provavelmente, a mais correta, talvez seja esta aqui. Anglófonos only, desculpem. Mas em essência, a idéia é: não se impõe nada a ninguém. Persuade-se, se tanto. A luta é pelos corações, e nenhum tribunal poderá dar ganho de causa neste terreno.