segunda-feira, 21 de março de 2011

Os Pilares da Terra, por Ken Follet

Os Pilares da Terra, de Ken Follet. Imagem gentilmente cedida pelo blog Arquitetando Idéias.

Encerrei o primeiro volume (é o da esquerda) de Os Pilares da Terra, e tenho que arranjar urgentemente o segundo. Com quase 500 páginas, Follet mergulha no mundo medieval do Século XII, na Inglaterra, e expõe as circunstâncias da construção de uma catedral no estilo gótico na pequena e imaginária cidade de Kingsbridge.

O livro apresenta três pontos de vista, três núcleos que se encontram várias vezes, e que juntos, com seus próprios interesses, compõem a trama: curiosamente, praticamente um por classe social de então.

O núcleo de Tom Construtor apresenta o ponto de vista do homem livre, trabalhador, do não-favorecido, com todas as suas dificuldades para encontrar um emprego estável. Semi-iletrado, ele é mestre artesão de construção, e após ter trabalhado em uma catedral, sonha em ser o mestre de obras e arquiteto de uma. Sonha, ao ponto de arriscar sua estabilidade, e, em dado momento, isso lhe custa muito caro - sem spoilers aqui. Por Tom e sua família, as ruas medievais são apresentadas, os bandidos, as relações com a nobreza e o clero. Talvez seja o personagem mais interessante da trama, sendo um homem honesto, estóico, apenas tentando sobreviver e dar dignidade à sua família - e alguém com mais ambição que pode se esperar, até: mas característica cativante, ele persegue seus sonhos.

O núcleo da nobreza passa por um momento histórico, o da Anarquia, quando a linha de sucessão real inglesa se embaralha, e reis menos dignos do que a maioria reinam sob alianças com pessoas igualmente menos dignas que a maioria - entra em cena a família Hamleigh, que é humilhada após o filho sofrer uma descompostura em público do alvo de suas atenções "amorosas", a filha do Conde de Shiring. O Conde se envolve em uma tramóia contra o rei que assume o trono inglês, contestado por sua irmã e o bastardo real, e os Hamleigh vêem nisso uma oportunidade de vingar-se, e de cara subir ainda mais socialmente.

O núcleo do clero participa das maquinações do Trono, e apresenta seus próprios dilemas: centrado na figura do Irmão Phillip, homem honesto e realmente fiel aos seus princípios religiosos, é o prior (o chefe entre os irmãos monges) de um pequeno mosteiro na floresta, subordinado ao de Kingsbridge, onde havia transformado o lugar em um realmente funcional e produtivo; para ir para o mosteiro principal de Kingsbridge e lá acabar por se tornar também seu prior. Phillip é um excelente administrador, e lhe dói ver o estado de abandono e desleixo do priorado-mãe. Muito para o seu desgosto, acaba passando por um curso intensivo de realidade, sendo apresentado à política que pode haver não somente entre irmãos monges, mas do clero e nobreza, através da figura vilanesca do padre Waleran Bigod, que acaba fazendo a ponte com o núcleo da nobreza. Mas dado momento, surge a família de Tom Construtor no caminho, Tom e seus sonhos, que passam a ser também os de Phillip, e aí... bem, leiam o livro. Vale muito à pena.

Ken Follet muito me lembrou Frederick Forsythe, que li há pouco tempo, no sentido de ser um escritor que faz toneladas de pesquisa e não se furta a despejá-las no colo do leitor - sem ficar maçante. Boa escrita, imagino, passa por aí. Mas se quiserem saber como funcionava uma economia medieval; e, especialmente como se construía uma igreja, ou ainda, uma catedral medieval, imagino que estes livros poderiam constar de alguma bibliografia de curso de História da Arte ou de Arquitetura. Ao lado das capas acima, o blog Arquitetando Idéias dá ainda outras belas imagens sobre o assunto.

Uma adaptação para a televisão rolou em 2010 pela HBO, com o sempre ótimo Ian McShane no papel de Bigod (vilão, pra variar...). Estou assistindo. É interessante ter ambos os produtos à mão e conhecer duas variações da mesma história, ver como isto ou aquilo se apresenta, de acordo com o meio. Até agora, gostei muito das soluções da adaptação. Abaixo, a belíssima apresentação desta série. Enfim... confiram, é uma grande história.


496 p.

2 comentários:

Elenara Stein Leitão disse...

Excelente apreciação. Eu adorei o livro e a mini série. Realmente mergulhei na leitura, enxerguei as cidadelas medievais e as paixões humanas que não diferem de época para época. Recomendo ainda a leitura da continuação da saga das personagens da trama: Mundo Sem Fim.
Muito bom !

Parabéns pelo blog, muito interessante.
Abraços

Luiz Felipe Vasques disse...

Obrigado, Elenara! Pois é, acabei de descobrir, dando uma pesquisadinha sobre esses livros, que existe essa continuação. Bem, minha PPL - Pilha Para Ler - apenas aumenta... :)