sábado, 10 de abril de 2010

E o que mais dizer...

... que já não tenha sido dito sobre as chuvas do estado do Rio de Janeiro que já não tenha sido, por exemplo, dito pela Ana Cristina Rodrigues, de quem muito prezo a opinião? É um relato pessoal, comovente, de quem conhecia e convivia com diversos afetados pela tragédia em sua cidade, Niterói -- os links abaixo também retirei de seu artigo no blog.

Destaco um trecho que... se isso aqui não é uma forma de crime, nada mais é:
E as pessoas retirando a terra de cima de suas casas – mas o Estado colocou bombeiros para limpar o Maracanã, afinal não se podia adiar o jogo do Flamengo.
O Morro do Bumba era um lixão aposentado - vejo, no telejornal, que o lixão quando ativo havia sido registrado em um documentário de 1980 chamado L. X. O., de Rogério German, que assombrava as sessões de cinema na época da obrigatoriedade do curta brasileiro. Um grande morro feito de lixo, como revela a matéria negra pelas fotos de qualquer jornal, com chorume escorrendo solto.

Todo maquiado, entretanto: uma rua asfaltada. Títulos de propriedade. A favela que era integrada. O prefeito Jorge Roberto da Silveira, é claro, dizia que não sabia de nada, sobre ser uma área instável... como se o bom-senso não dissesse nada sobre se morar. Em. Um. Lixão. Porra.

Logo adiante, a comunidade no Morro do Céu, com história e ameaças similares...

Coisas de nossa direita insensível e, socorro, nossa esquerda salvadora. A prole de Brizola continua à solta, mesmo depois da morte do vampiro-mor. No Rio, o prefeito Eduardo "Eu-votei-no-outro-cara" Paes toma medidas de remoção de áreas de risco (até que ponto isto não é um critério político, mais do que técnico?) no grito, após o cocoréu ter rolado encosta abaixo, e não antes. Ao menos tomou alguma iniciativa. Canhestra, oportunista, meio tardia. Mas tomou.

É como me dizem, com muita propriedade: O Brasil precisa de um governante que não tenha medo de não ser amigo de ninguém. De ser antipático. De dizer NÃO.

Claro que a remoção de áreas de encostas envolve diversos dramas: quem lá mora tem sua vida montada nos arredores, é de se supor: trabalho, amigos, família. O fantasma da Cidade de Deus surge toda a vez que o assunto da remoção é tratado, pois ao invés de um projeto urbano de desenvolvimento, tornou-se um distante depósito de gente pobre, e futuro grande bolsão do crime. Mas claro que, para se tratar de um projeto urbano, tem que haver continuidade além de um mero mandato de 4 anos, e a miopia proposital da política impede disto. Não é só desalojar, é realojar, com a capacidade de transporte, saúde, TRABALHO, educação... criar mais uma parte da cidade, tão completa (se tanto...) quanto o resto.

E ai, é claro, porque o buraco sempre é muito mais embaixo... a população das favelas continua sendo, em boa parte, de oriundos dos estados do Nordeste, chamados pela promessa de melhoria de condições de vida? Caso sim, o problema começa a ter que ser resolvido por lá. E a partir do momento em que favelas são urbanizadas e títulos de casas finalmente concedidos, a migração só faz piorar.

Entre outras questões: o que ainda falta para o Rio decretar estado de calamidade pública? Niterói já decretou. Será que cai assim tão mal para a cidade da Copa do Mundo e Olimpíadas?

Por último, ouço do mesmo amigo: medidas preventivas são mais difíceis de camuflar o desvio de verba, do que as medidas de emergência. Torço para que ele esteja errado.

Para quem quiser ajudar as vítimas em Niterói, dois links: aqui e aqui.

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