Star Trek: Once Upon A Time...
Era uma vez uma série nos anos 60 na televisão americana que contava histórias de ficção-científica, sobre uma tripulação multinacional e étnica, de uma era em que a Humanidade estava unificada sob uma regra benevolente, havendo encontrado alienígenas que haviam ou se aliado em uma pacífica busca pelo conhecimento estrelas afora, ou à ela se oposto francamente, gerando inevitável conflito.
Era uma série em que não bastava apertar o gatilho todas as vezes. Havia momentos em que se questionava sobre apertar o gatilho, ou mesmo se violência era a melhor solução, assim como suas consequências. Sim, havia essa série, que ousava propor questionamentos éticos e dilemas morais, por mais rasos que pudessem ser dentro das limitações do formato - mas eles tentavam. Mesmo. Acreditem, essa série existiu.
A série durou, entretanto, apenas três anos, com problemas entre audiência e grade de programação, com o último ano recheado de episódios de baixa qualidade em suas histórias.
Um belo dia, dez anos após o encerramento ou quase, fizeram um filme. Um filme grandioso, kubrikiano em mais de um sentido, mostrando a velha turma um pouco mais... velha. E ai fizeram outro filme. Sensacional, resgataram um vilão da velha série, foi duca. Fizeram um terceiro. E um quarto. Um quinto. Um sexto. Fizeram também, a essa altura, uma nova série, passada 80 anos depois ou quase, dos eventos da primeira série. Fizeram mais outra série, e outra, e outra. Também fizeram mais quatro filmes.
Mas talvez tenham feito demais. Mas como resistir? Era lucrativo demais para não se manter o nome vivo - fora jogos e uma miríade de produtos franqueados. Uma galinha dos ovos de ouro. Não obstante alguma coisa ter se perdido... menos ideais, mais expediência, talvez. Mais histórias em cima de efeitos especiais. Reciclagens de velhos temas abordados, apresentados sob novos efeitos. Algo simplesmente não dava mais certo.
Star Trek: To The Absent Friends
Há dez anos ou o que seja que eu me refiro a Jornada Nas Estrelas como um querido amigo de infância, companheiro de todas as horas, e até de início de adolescência, mas que lá pelas tantas passou a se envolver com más companhias e drogas pesadas: eu o trato com preces, saudades, e uma saudável distância.
Mas ai, é claro, quando ele aparece, fraquejo, e vou vê-lo. Apenas para constatar que nada mudou, ou que assim todos nos enganamos, ou que as supostas melhoras aventadas apenas me fazem sofrer mais um pouco.
É sério. Eu fui ao cinema após longos meses de preparo psicológico, baixando como podia minhas expectativas, conforme explico um pouco mais abaixo. Eu fui com o coração tão aberto quanto pude - até com um certo entusiasmo, face à mudança do comando criativo da franquia. Eu achei que eu ia realmente curtir. Eu não achava que ia ser o ó do borogodó, eu achava que iria ser melhor do que pérolas como Insurrection ou Enemesis. Claro que isso devia ser obrigação, e não mérito, por um lado. Eu havia visto o trailer. Tudo colorido, tudo brilhante, e, de fato, tem um lens flare a cada cinco minutos, ou quase. Parecia divertido, um ótimo combate de naves, saltos de para-quedas de órbita, mais naves! Ok! Yaaay! Mas não vamos esperar mais do que isso - ei, Jornada nas Estrelas II e III são, em essência, aventuronas. Que mal há nisso? Não vamos esperar mais do que isso, repito.
Ou vamos?
O filme de J.J. Abrams tira das mãos dos responsáveis pelo afundamento da franquia, quebrando com um formalismo oriundo da segunda série de tv (caracterizada nos últimos quatro e cada vez mais desastrosos filmes), e indo na direção de algo mais aventuresco, concluído do que seria a série original dos anos 60.
Star Trek: All That Glitters
Até ai, ok, ainda que J. J. Abrams seja mais conhecido por hits de cinema (Cloverfield) e tv (Alias, Lost) que não precisem exatamente de muito conteúdo. Entre alguns amigos, havia a piada que repetíamos, "Gente!... é filme do J. J. Abrams!... vai ter gente bonita!... vai ter muita ação!... fotografia fodona!... altos efeitos especiais...! vai ser UMA MERDA!"
Ah, então é feio ter gente bonita, muita ação, fotografia fodona e altos efeitos especiais? Não, claro que não é, tá maluco?
O que é feio é só ficar nisso, especialmente se você leva o nome Star Trek na jogada, e ainda por cima quer remeter à velha série. Aquela mesma série que, ao contrário de todas as outras de FC dantanho, salvo Além da Imaginação, apesar de ser uma proposta bem diferente, era uma série que falava de racismo, males da guerra, códigos de conduta, etc, etc, e tal - podia fazer pensar E divertir - ei, revolucionário, não?
Star Trek: I Don't Give a Frak Anymore
Mas, já que vocês estão chegando até aqui, eu vou lhes contar o que realmente me fode nesse filme. Não, não é o apelo ao impetuoso-porém-sempre-certo. Não é a bicada na cronologia que existe além da questão da interferência temporal. Não é o fato de que os dois planetas centrais à trama se chamam Vulcan e Iowa. Não é o fato de se ter tanto, mas tanto e tanto já feito, e assim mesmo se abrir mão disso tudo em nome de liberdade para "criar". Não, também não é o fato de outra maldita viagem no Tempo. Não é o fato de, e sacaneio, um mineiro revoltado do Século XXIV ter conseguido fazer o que a Coletividade Borg não conseguiu. Não é o fato do vilão ser o segundo romulano com uma nave do Juízo Final na segunda vez consecutiva. Não é o fato de, apesar de ser Star Trek, a Astronomia não fazer mais sentido do que se fosse na velha série de Perdidos no Espaço. Não é o fato dos vulcanos não me convencerem. Não é o fato de sentir que nem Leonard Nimoy funciona como Spock.
É o fato de ser mandatório gostar desse filme. Que os que não gostarem passam a "não saber o que estão perdendo". E quem tenta argumentar é "nerd chato babão". Que basta ser uma "aventura despretensiosa" - quando não há NADA, aprendam, NADA de despretensioso em qualquer projeto de milhões de dólares - para se passar a mão na cabeça por todas as suas incoerências. Eu odeio o discurso da simploriedade. E esse filme é simplório para caralho. Mas se FC reflete a mentalidade do tempo em foi escrita, então esses são os tempos da simploriedade. Filmes para o Homer Simpson não precisar entender.
E ai de quem um dia quis mais.
sábado, 9 de maio de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Eu não ligo para o Hype em torno desse filme. Apenas duas coisas me surpreendem: a reação do público e da crítica, quase uniformemente positiva, e o engajamento de Leonard Nimoy.
A primeira não seria o suficiente para me levar ao cinema. A segunda, sim. Só por isso vou ter que conferir com meus próprios olhos...
"Toda a unanimidade é burra". Tenha isso como uma verdade, aqui...
Se fosse só o Homer Simpson que tivesse gostado, eu não me importaria. Mas são astrônomos, engenheiros, doutores, quadrinistas, atores... gente que claramente nem é burra, nem tem mau gosto.
Quanto mais eu penso sobre o assunto, mais eu acho que o problema foi o "mais do mesmo" em termos de filme de ação. EU não gosto disso; outras pessoas acham do cacete.
Então, tá, né? Paciência :-)
Ontem eu falei pra mim mesmo em voz alta: eu não gosto de Star Trek.
É a única conclusão possível.
Mas gente inteligente pode apreciar ferpeitamente filmes para o Homer, o ponto não é esse.
O ponto é entre o que vc fala - é francamente um filmeco de ação e tudo aquilo que poderia ser melhor, e com tão pouco esforço.
Finalmente vi o filme ontem!
Não sabia que todo mundo estava adorando, entre os meus amigos e conhecidos o comentário geral não passou de um "legal..."
Olha, eu gostei bastante do filme, acho que dos meus amigos fui o que mais gostei.
Em primeiro lugar achei que as caracterizações ficaram muito boas, tanto que eu reconhecia cada personagem assim que aparecia na tela.
Tinha muito medo do Kirk ficar parecendo um personagem de Crepúsculo ou Harry Potter, mas achei que todo o jeitão e personalidade do Shatner estavam lá.
Mais que tudo admirei a coragem de mudar todas as origens e cronologia da série original abrindo espaço para recriar a franquia decentemente.
Eu ignorei boa quase todas as séries mais recentes para a TV e os 4 últimos filmes e agora tenho esperança de que venham coisas boas no futuro.
A destruição de um planeta inteiro e uma raça deixada à beira da extinção me parece algo suficientemente atual para aproximar o filme da série original.
Os conflitos pessoais do Kirk e do Spock são bem mais intensos do que na série original onde a humanidade do Spock geralmente era usada apenas como um gancho meio cômico e agora temos um Kirk mais rebelde o que me agradou.
Sim, tem um monte de coisas incômodas, o filme poderia ter sido maravilhoso, mas por causa disso para mim ficou sendo apenas um primeiro passo para a recriação da franquia.
Quero ver o que vem a seguir para decidir o que achar do rumo que eles estão tomando....
> Os conflitos pessoais do Kirk e do Spock são bem mais intensos do que na série original onde a
Que conflitos pessoais do Kirk e Spock, perdão?
> humanidade do Spock geralmente era usada apenas como um gancho meio cômico e agora temos um Kirk
"gancho meio cômico"... Roney, desde quando vc não vê essa série? :)
Postar um comentário