A essa altura, não é novidade: a Amazon, à revelia dos compradores, deletou determinado conteúdo do kindle sem aviso prévio a seus usários e compradores, reembolsando-os financeiramente. O conteúdo? As obras de George Orwell, Animal Farm (A Revolução dos Bichos, em português) e 1984. Especialmente sobre esta última, mais emblemático, impossível. Impossível.
1984 talvez seja a obra das obras sobre um governo totalitário e realmente opressor, que chega a ponto de reescrever a História, adotando para si as glórias e feitos do passado, remover artigos de jornal que criticassem o Partido, etc. e tal. Crítica ao stalinismo na época, mas que hoje em dia transcende ideologias ou suas ausências, sendo uma metáfora de qualquer sistema opressivo.
Recebi, com entusiasmo até, a notícia de que na Califórnia, por decreto do Governator, todo o sistema público de ensino iria adotar uma forma semelhante ao kindle, do que entendi, como livro didático: a idéia é, assim que confirmadas fossem novas descobertas, a disponibilização in promptu aos alunos. Achei isso muito legal, mesmo. Mas comecei a divagar, pelas obscuras ruelas mal-iluminadas dos meus achismos, de que um belo dia os alunos poderiam ligar seu kindle e *plim*: A Terra tem 6.000 anos de idade. Tenha um bom dia, cidadão.
Para não dizer, talvez toda uma, digamos, História da Pedagogia esteja ameaçada, e suponho que isto tenha a sua relevância.
E, é claro, começa a feira de erros: os direitos do consumidor. Ora, se fosse na vida real, alguém da livraria poderia entrar na minha casa e pegar um livro que comprei de volta, deixando o dinheiro pago por ele, sem antes me consultar? Não sem algumas cadeiradas no processo.
(Ainda digo: é culpa do Bill Gates. :) A M$ é que tem essa mania de fuçar no seu sistema operacional sem te consultar, já que você, macaquinho, não sabe mesmo de onde vêm as bananas. Tornou-se tradição na informática.)
Deve ter alguma tese, em algum lugar: nunca a geração, veiculação e, consequentemente, acesso à informação esteve tão facilitado na História, e igualmente, nunca esteve tanto a perigo: não somente de manipulações espúrias como esta, mas considere deixar seu palm cair no chão da altura da mesa. Considere deixar sua agenda velha, papel, do seu andar.
E ai, ainda por cima, leio o motivo do qual logo uma livraria incorre em ato tão trevas: eles não querem trabalhar com títulos sem direitos autorais. Outro catatau de erros a ser destrinchado.
terça-feira, 4 de agosto de 2009
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2 comentários:
"Ora, se fosse na vida real, alguém da livraria poderia entrar na minha casa e pegar um livro que comprei de volta, deixando o dinheiro pago por ele, sem antes me consultar?"
Excelente meu velho. Orwell está mais atual que pdoeria supor se estivesse vivo hoje.
E o problema ainda se desenrola de maneiras terríveis: pense o quanto que te-vigiar-para-seu-próprio-bem aparece em filmes, hj em dia? Ou como o voyeurismo passou a ser institucional, da evasão de privacidade da Internet aos "reality" shows da vida?
Não é hj que eu acho que o Grande Irmão irá assumir o poder pelos braços do povo, entre o quanto ele é divertido e o quanto ele é "necessário".
O próximo passo, arrisco a dizer, é conciliar brutalidade e diversão. Não lembra do Dubai, aquela teocracia muçulmana disfarçada de paraíso materialista da burguesia ocidental?
É por ai.
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